Governo enfrenta primeira greve na administração central
29.01.2016 às 8h22
Ana Avoila, coordenadora da Federação dos Sindicatos da Função Pública
TIAGO PETINGA / LUSA
“A greve faz-se porque não faz sentido que a proposta do PS remeta a reposição do horário de 35 horas para julho e ainda lhe acresça a regulamentação no prazo de 90 dias”, defende a Federação dos Sindicatos da Função Pública
O Governo enfrenta esta sexta-feira a primeira greve na administração central e estabelecimentos fabris das Forças Armadas, mas os primeiros efeitos da paralisação sentiram-se ao início da noite desta sexta-feira no sector da saúde.
A reposição imediata do horário semanal de 35 horas levou a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e o Sindicato dos Trabalhadores dos Estabelecimentos Fabris das Forças Armadas a convocarem esta greve, que preveem "com muita adesão".
Embora o Parlamento tenha aprovado na generalidade, no dia 15, os projetos de lei do PCP, "Os Verdes", Bloco de Esquerda e PS para a reposição das 35 horas de trabalho na função pública, estes sindicatos não ficaram convencidos, porque temem que a medida só entre em vigor no último trimestre do ano.
A principal diferença entre os quatro projetos de lei, que estão em discussão na comissão da especialidade, está no prazo de entrada em vigor da lei, pois enquanto o partido do Governo remete a aplicação da medida para 1 de julho, os outros três partidos querem a sua aplicação o mais rápido possível, correspondendo à reivindicação dos sindicatos.
"A greve faz-se porque não faz sentido que a proposta do PS remeta a reposição do horário de 35 horas para julho e ainda lhe acresça a regulamentação no prazo de 90 dias", disse à agência Lusa a coordenadora da Federação dos Sindicatos da Função Pública (filiada na CGTP), Ana Avoila.
Segundo a sindicalista, as estruturas sindicais que convocaram a paralisação desta sexta-feira estão disponíveis para negociar a data de entrada em vigor da reposição do horário de trabalho, mas não aceitam a regulamentação a 90 dias.
"Os objetivos desta greve correspondem aos anseios e reivindicações dos trabalhadores, que tem sido vítimas de uma política de empobrecimento e de retirada de direitos, designadamente o aumento do horário semanal de trabalho das 35 horas paras as 40 horas, que destabilizou toda a sua vida pessoal e profissional", considerou Ana Avoila, acrescentando que esta paralisação é "mais uma luta das muitas já travadas para revogar a lei das 40 horas, desde abaixo-assinados, manifestações e greves.
Ana Avoila disse que nos últimos dias os sindicatos envolvidos na greve têm sido contactados por muitos trabalhadores a manifestarem a sua disponibilidade para participarem na paralisação.
Os primeiros efeitos da greve sentiram-se nos hospitais, onde os enfermeiros e o pessoal auxiliar que iniciaram os turnos noturnos a partir das 20h. Esta manhã, a atenção dos sindicatos estará sobretudo voltada para as escolas, acreditando que muitas delas vão encerrar por falta de pessoal não docente.
"Tendo em conta a disponibilidade demonstrada pelos trabalhadores dos vários setores acreditamos que vamos ter muita adesão à greve", disse Ana Avoila.
A Federação Nacional da Função Pública teve esta quinta-feira uma reunião com a secretária de Estado da Administração Pública, mas isso em nada alterou a disponibilidade para a greve, até porque esteve em discussão o congelamento salarial, que deverá manter-se, tornando-se num motivo acrescido para o descontentamento.
A estrutura sindical tem salientado que os trabalhadores da função pública nos últimos anos "fizeram trabalho gratuito, porque lhes foi aumentado o seu período normal de trabalho semanal e não lhe foi aumentado o valor hora, correspondente a uma perda de rendimentos mensal de 14%".