Parlamento acordou “vendido”
22.06.2015 às 13h08
Duas pessoas afixaram a tarja mesmo por cima dos agentes da autoridade “estacionados” na escadaria da AR. Num vídeo entretanto publicado na Internet é possível ver que têm a credencial amarela que é entregue aos visitantes do Parlamento
Dois ativistas ligados ao Agir (organização política que tem como figura de referência Joana Amaral Dias) colocaram esta segunda-feira uma faixa na varanda da Assembleia da República com a inscrição "Vendido". A ação decorreu por volta das 09h e a tarja ficou em exposição durante cerca de 25 minutos, quando foi retirada por um agente da GNR.
A inicitiva foi promovida pelo movimento "Eu não me vendo", que já disponibilizou o respetivo vídeo no site eunaomevendo.pt. Um elemento ligado a esta "organização cívica" explicou ao Expresso que esta foi a primeira de uma série de ações com que "pretendem intervir na campanha eleitoral".
A ideia, diz a mesma fonte, é fazer "ações simbólicas" que coloquem na agenda política algumas "questões fundamentais que estão a ser pouco discutidas". Nomeadamente as privatizações e o esvaziamento da soberania nacional.
Privatizações e esvaziamento da democracia
"Queremos denunciar este processo de privatizações, que já atingiu o dobro do valor previsto no memorando de entendimento e tem sido tudo menos transparente", diz este ativista do "Eu não me vendo". As privatizações "não só foram maus negócios, como entregaram, quase por ajuste direto, setores estratégicos da economia portuguesa sem que se conheçam os pormenores desses processos".
"O que ficará destes anos não é a suposta reforma estrutural [do país], mas estes negócios", afirma a mesma fonte, apontando o dedo à falta de escrutínio sobre os decisores políticos. Uma questão que decorre de um problema mais amplo: "a perda de soberania nacional". Daí a escolha da Assembleia da República para a estreia deste movimento.
"Os poderes estão completamente esvaziados, nomeadamente o poder orçamental, que é a razão pela qual se constituíram os Parlamentos. Há um esvaziamento total da democracia quando um programa económico que condiciona toda a nossa vida é ditado de fora, seja por Bruxelas, seja por Berlim", diz este ativista do Agir.
A Agir é uma organização política dirigida por Joana Amaral Dias e Nuno Ramos de Almeida. Recentemente anunciaram a intenção de concorrer às próximas legislativas integrando uma coligação que junta o Partido Trabalhista Português e o Partido do Atlântico.
Plácidas manhãs de segunda-feira
A ação desta segunda-feira na varanda do Parlamento decorreu à vista de quem quisesse olhar para lá: duas pessoas - um homem e uma mulher - afixaram a tarja mesmo por cima dos agentes da autoridade "estacionados" na escadaria da AR. Nas imagens é possível ver que têm a credencial amarela que é entregue aos visitantes do Parlamento.
A escolha do momento foi propositada: "Sabemos que está sempre pouca gente na AR à segunda-feira de manhã", disse a mesma fonte ao Expresso, reconhecendo a "facilidade" com que tudo aconteceu.
"Essa facilidade tem que ver com a relativa paz em que vivemos. Mas já sabemos como é: casa roubada, trancas à porta. Da próxima vez vai ser mais complicado", aposta este ativista.
Fica a garantia de que vai haver "próxima vez". Pode ser ainda hoje.