Protestos na Roménia levam à demissão do ministro da Justiça
09.02.2017 às 20h19

Matt Cardy/Getty Images
Florin Iordache foi um dos principais responsáveis pela elaboração do polémico decreto que tem motivado protestos por parte de milhares de pessoas em várias cidades da Roménia que exigem a demissão do Governo social-democrata
Na sequência dos maiores protestos de que a Roménia foi palco desde a queda do regime comunista em 1989, o ministro da justiça, Florin Iordache, demitiu-se do cargo esta quinta-feira. O ministro foi um dos responsáveis pela elaboração de um decreto de emergência que descriminaliza certos tipos de corrupção e que só prevê penas de prisão em casos de abuso de poder que resultem em perdas financeiras superiores a 44 mil euros.
Apesar de o Governo ter mencionado que esta medida era importante para aliviar a ocupação das prisões do país, que se encontram sobrelotadas, vários críticos apontam que seria apenas um pretexto para o Partido Social Democrata absolver governantes acusados, ou até já condenados, por corrupção. É vista ainda como uma tentativa de proteger membros do partido no poder, incluindo o ex-primeiro-ministro Liviu Dragnea, que em 2016 foi condenado por fraude eleitoral e está ainda a ser julgado pelo alegado desvio de 24 mil euros. Atualmente é o líder do PSD, mas os manifestantes pedem a sua demissão.
O decreto foi revogado no passado domingo e, um dia depois, o primeiro-ministro, Sorin Grindeanu, anunciou que o seu Governo não se iria demitir. Por essa mesma razão, a demissão de Florin Iordache aconteceu de forma inesperada. “Decidi propor a minha resignação”, referiu Iordache, citado pelo “The Guardian”, reiterando que todas as iniciativas que tomou terem sido “legais e constitucionais”.
Também o ministro dos Negócios, do Comércio e do Empreendedorismo, Florin Jianu, se havia demitido no passado dia 2 de fevereiro. Na altura, escrevera no facebook que “não queria ter de dizer às suas crianças que era um cobarde e que tinha concordado com algo em que não acredita. Isto é o que a minha consciência me diz para fazer”.
De acordo com Radu Magdin, um analista de política que o “The Guardian” cita, a decisão de Iordache vem ajudar o Governo neste período. “Iordache é odiado por um grande número de pessoas. Por agora, isto vai certamente ajudar a diminuir o número de protestos e acalmar os ânimos”, refere, sublinhando ainda que a sua saída vai passar a ideia de que os “sociais democratas aprenderam a sua lição e que vai ter um efeito”.
No entanto, escreve a BBC, os protestantes não se dão por satisfeitos e querem mesmo a demissão de todo o Executivo. Também o Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, culpabilizou o Governo por ter causado a crise e referiu que “a demissão de um ministro não seria suficiente”.
Esta quarta-feira, todavia, foi chumbada no parlamento uma moção de censura contra o Governo social-democrata. Este chumbo ficou a dever-se à maioria absoluta dos partidos no Governo: o PSD e a Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), cujos deputados abandonaram o plenário para não votarem, segundo a agência Lusa.