Ultimamente ando muito. E ando. E ando mais um bocado
30.12.2015 às 10h00
Tiger Woods completa 40 anos esta quarta-feira e, depois de uma época para esquecer, está resignado. O talento que mudou o golfe em 1996 já lá vai: “Onde está a luz no fundo do túnel? Não sei”. O Expresso continua a apresentar os acontecimentos desportivos de 2015 que mais vale esquecer em 2016
“Foi bom enquanto durou.” A frase com que Tiger Woods resumiu recentemente a sua carreira, em (longa) entrevista à “Time”, é arrepiante para quem o viu ganhar quase tudo (foram 14 majors), num percurso que às tantas parecia destinado a superar o de Jack Nicklaus (18 majors), amplamente considerado o melhor golfista de sempre.
Só que o presente de Tiger, que completa 40 anos esta quarta-feira, tem muito de passado e muito pouco de futuro, admitiu o próprio. “Ultimamente ando muito. E ando. E ando mais um bocado. Sou muito bom a jogar videojogos. Muito bom. A sério, é a fazer isso que passo praticamente todo o meu tempo”.
A confissão cândida de um dos melhores golfistas da história é dura de ouvir. Mas não surpreende quando se olha para o registo de Tiger nos últimos tempos: esta foi a pior época da sua carreira (está num incrível 413º lugar do ranking mundial) e não há maneira de conseguir livrar-se da lesão nas costas que o atormenta e que o obrigou a ser operado três vezes em pouco mais de ano e meio.
Pior: a gravidade da lesão não lhe permite sequer saber quando voltará a jogar. “Não tenho qualquer resposta sobre isso. Nem o meu cirurgião, nem o meu fisioterapeuta. Não há uma data prevista. É a parte mais difícil para mim. Não vejo nada de positivo para o futuro. Onde está a luz no fundo do túnel? Não sei.”

Um homem à deriva. Eis o “novo” Tiger Woods
Kevin C. Cox/Getty
O último major que Tiger ganhou foi o US Open, em 2008. A partir daí, foi (quase) sempre a descer. Muito por culpa do escândalo que lhe mudou a vida no final de 2009. Woods, casado com a ex-modelo sueca Elin Nordegren desde 2004, foi crucificado pela comunicação social norte-americana quando se descobriu que tinha tido várias amantes.
Num mês, Woods pediu desculpa à família e aos fãs três vezes, em três comunicados, pelas “transgressões” que o obrigaram a “fazer um intervalo na sua carreira como golfista”. Os tablóides não o largaram, publicando fotos e mensagens das (mais de uma de dezena de) amantes quase diariamente.
A loucura foi tal que não se falava em mais nada nos EUA. “Para nós, a história foi melhor do que a morte do Michael Jackson”, disse então Carol Bartz, CEO da Yahoo, cujo site aumentou drasticamente o tráfego e as receitas de publicidade.

Tiger Woods e Elin Nordegren divorciaram-se em agosto de 2010, mas continuam a ser amigos
Harry How/Getty
Pelo contrário, para Tiger, a história foi o pior que lhe podia ter acontecido. Começou a perder patrocinadores (Accenture, Gatorade, General Motors, AT&T...) e foi arrasado pela opinião pública e até pelos colegas. Como Jesper Parnevik, que lhe tinha apresentado Elin Nordegren. “Disse-lhe que o Tiger era tudo o que ela queria num tipo: verdadeiro, honesto e com grandes valores. Enganei-me redondamente”.
No início de 2010, Tiger foi entrevistado pela primeira vez depois do escândalo e revelou que tinha estado a fazer terapia. “Pensei que podia fazer tudo o que queria. Sentia que tinha trabalhado no duro toda a minha vida e merecia aproveitar todas as tentações à minha volta. Graças ao dinheiro e à fama, as tentações estavam sempre ali. Errei”.
Em abril de 2010, voltou ao ativo, mas nunca mais ganhou um major. Pouco depois, divorciou-se de Elin Nordegren. “Olhando para trás, tenho pena de não ter tido uma relação mais honesta com ela. Ter a relação que temos hoje em dia é fantástico. É uma das minhas melhores amigas. Falamos ao telefone sempre que nos apetece. Ambos sabemos que as coisas mais importantes das nossas vidas são os nossos filhos. Quem me dera tê-lo percebido naquela altura”, confessou Tiger à “Time”.

Jack Nicklaus a dar umas dicas a Tiger Woods em 1996, ano em que o puto se tornou profissional, com 20 anos
J.D. Cuban/Getty
Sim, o golfe é importante. Sim, Woods queria ser melhor do Nicklaus. Mas agora... há outro Tiger. “Não quero deixar o golfe, sem dúvida. Não quero, digo isto com todo o meu coração. Mas agora as vidas dos meus filhos são muito mais importantes para mim. Se conseguir conciliar ambos os mundos, ótimo. Mas se só conseguir ter um, não será o golfe”. Foi bom enquanto durou.