Brexit: Velhos, pobres e maus
29.06.2016 às 18h00
Primeira reação: os velhos não têm o direito de determinar aquilo que vai afectar os jovens. Uma condenação a uma morte cívica antecipada, condizente com outras mortes antecipadas a que as sociedades ocidentais condenam os mais velhos. Segunda reação: os mais pobres são mais ignorantes. A proposta é impor a vontade de uma elite civilizada, informada e sem medo da mudança aos pobres ignorantes que a globalização não acolheu? É que eles nascem, eles votam, eles são cidadãos e têm razões para não estarem satisfeitos. Terceira reação: a culpa foi dos tabloides. Mas eles já existiam nas campanhas que elegeram os líderes que estavam do lado do “remain”. Quarta reação: os eleitores não sabiam o que estavam a fazer e mal viram os resultados arrependeram-se. Um atestado de menoridade à democracia. Quinta reação: esta decisão resulta da natureza isolacionista e desconfiada dos britânicos. Em vez da psicologia coletiva, da antropologia espontânea, da xenofobia para explicar comportamentos de supostos xenófobos, talvez fosse melhor perceber o que mudou na Europa e nas políticas sociais britânicas para que isto acontecesse agora. Todos os argumentos valeram, menos uma análise séria ao que está a acontecer às democracias europeias e à União. Aposte-se na histeria para que nada mude
As reações ao referendo britânico têm revelado uma extraordinária dificuldade em aceitar a democracia quando ela faz mais do que escolher pessoal político dentro de um quadro já determinado. Acalmemos um pouco: os britânicos não subverteram o regime ou elegeram alguém que ponha em risco a democracia e o Estado de Direito. Decidiram abandonar uma União cuja participação resulta de uma opção voluntária de Estados soberanos e independentes. E, para quem se tenha esquecido, há vida inteligente e democrática fora da União. Perguntem à Noruega e à Islândia.
Aquilo a que temos assistido é a uma perturbante criminalização política da opção feita pelos britânicos. E ela diz mais sobre o período de anomalia democrática que se vive na Europa do que sobre os eleitores do Reino Unido. Que, goste-se ou não, deram uma lição de democracia ao resto da Europa. Não é, aliás, a primeira vez que o fazem.
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