Geografia dos espaços e a homenagem de Hilmar Orn Hilmersson a Lisboa
28.09.2015 às 11h46

No filme "O Sentido da Vida", Giovane relembra-nos e confronta-nos com o facto do mundo em que vivemos ser já quase um holograma, em que basicamente a comunicação através dos mais variados gadgets e redes multimédias: skype, SMS, chats, etc. Estranhamente só ampliaram ainda mais a nossa intrínseca sensação de solidão
"O Sentido da Vida" oscilará entre uma vertigem visual de novos meios de comunicação e um tempo distenso que nos é dado através da viagem de Giovane. Nos dias de hoje já não pensamos ou sentimos. Não existe tempo. Simplesmente agimos. E por isso mesmo, apesar de contraditório, o nosso grau de solidão é maior e tende a aumentar exponencialmente.
No filme, a ligação entre os personagens é feita cronologicamente intercalando-se ao longo da passagem do Giovane pelos diferentes cantos do mundo. Contudo, o jovem, como parte integrante deste, observa através dos media os restantes personagens e as suas atuações públicas.
O espectador assistirá, assim, a um confronto quase simultâneo, entre a imagem pública de cada um destes personagens-arquétipos e a sua verdadeira realidade vivencial. Até que ponto não somos todos frutos de construções ficcionais inerentes à nossa própria imaginação ou criada por assessores contratados? Este filme pretende assim trabalhar os diferentes patamares da realidade e daquilo que é suposto ser a representação de cada um de nós.
O espaço físico que habitamos foi sempre determinante na evolução da humanidade sendo a sua exploração comercial ou cientifica o seu motor de progresso e o seu recuo. Desde sempre que o ser humano quis conquistar o que estaria para além da fronteira da sua comunidade fosse através da terra, do mar, ou nos dias de hoje, do espaço.
A tentativa de conhecimento do que estaria além (intimamente ligada à nossa necessidade de explicar o que nos ultrapassa) foi barrada inúmeras vezes pelas diferentes religiões que viam nesta necessidade de saber uma perigosa forma de desconstrução mitológica. Copérnico, Galileu (com a teoria heliocêntrica) ou até mesmo figuras bíblicas como o diabo foram sempre banidos e perseguidos na sua procura de saber.
É verdade que as viagens marítimas dos portugueses provocaram uma radical transformação do mundo moderno porque finalmente o temido desconhecido se torna conhecido. Porém é apenas nos anos 60 com a corrida espacial que, pela primeira vez, o ser humano tenta provar a si mesmo que tem hipóteses de sair do seu planeta e confirmar se está ou não está sozinho.
Mas se é verdade que esta busca e obsessão pelo espaço é legítima, também é verdade que pouco sabemos sobre a terra e ainda menos sobre o mar. Por esta razão no decurso do filme, e tentando alcançar o objetivo de “Cápsula do tempo da humanidade” a que nos propomos, para além da linha cronológica (história do mundo) que a viagem do nosso herói possibilita, foram escolhidos 3 personagens que assumem uma linha vertical que representam: o céu, a terra e o mar.
O astronauta olhará para nós na nossa real significância e na devida escala, o filho de Cousteau nos irá lembrar que o mar é ainda um perfeito desconhecido e a cidade de São Paulo que se assume também como personagem será o espelho da sociedade urbana em que nos tornámos: uma aglomeração metropolitana com cerca de 20 milhões de habitantes que milagrosamente funcionava na sua grandiosidade, até aos dias de hoje em que um bem essencial começa a escassear: a água.
No filme acompanharemos os personagens nos seus ambientes de origem e em realidades que nunca pensaram existir; como Valter Hugo Mãe num café repleto de gatos, em Tóquio ou o islandês Hilmar, caminhando pelas ruas de Lisboa procurando os lugares de Fernando Pessoa sob os 40ºC do verão da cidade, que o faz sentir-se tão incomodado como “um urso polar a derreter-se”.








